Abatacepte: segundo após rituximabe no risco de reativação reversa para HbsAg em pacientes com doenças reumáticas
- 13/10/2021
- Publicado por: reumatonews
- Categoria: Reumatologia

Após infecção pelo vírus da hepatite B (HBV), pode haver reativação da infecção mesmo em pacientes que soroconverteram para anti-HBs. A reativação do HBV pode ocorrer espontaneamente, como resultado de terapia antiviral inapropriada ou em reposta e medicamentos imunossupressores1.
Definições do clearance do HBV e persistência1:
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Resolução da infecção por HBV: HBsAg e HBV DNA indetectáveis, de forma sustentada, no soro com ou sem soroconversão para anti-HBs após a resolução da infecção aguda, ou recuperação de infecção crônica espontaneamente ou após terapia antiviral (também conhecido como “cura funcional” neste cenário).
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Cura completa: erradicação completa do cccDNA do HBV e DNA integrado de cada hepatoócito (há dúvidas se poderia de fato ocorrer).
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Infecção ativa: HbsAg detectável no soro.
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Infecção crônica: HBsAg detectável e sustentado por pelo menos seis meses no soro.
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Infecção oculta: presença de HBV DNA competente para replicação em hepatócitos na ausência de HBsAg sérico detectável.
Estudos vinham apontando que em pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIMs), o risco de reativação era maior para rituximabe e terapia anti-TNF (anticorpos monoclonais), sendo que apenas pacientes recebendo estes agentes biológicos e altas doses de glicocorticoides vinham sendo classificados como de alto risco para reativação do HVB2.
Neste sentido, um recente estudo avaliou retrospectivamente o risco de reativação do HVB em 1937 pacientes com AR e os fatores associados ao risco da reativação3.
Durante seguimento de 67.828 pessoas-mês, 27 (5,5%) pacientes desenvolveram soroconversão reversa (SR) para HbsAg – reativação – após o tratamento com DMARDs biológicos (bDMARDs).
Em comparação com aqueles sem SR para HBsAg, os pacientes com SR para HBsAg eram mais velhos, tinham menor frequência de anticorpos anti-HBs e níveis basais de anti-HBs mais baixos.
Na análise multivariada, rituximabe (HR ajustado 87,76)*, abatacepte (HR ajustado 60,57)* e anti-Hbs negativo (HR ajustado 5,15)*** na linha de base foram os fatores de risco independentes para SR para HBsAg.
*HR ajustado: 87,76, IC 95%: 11,50 a 669,73, p <0,001 **HR ajustado: 60,57, IC 95%: 6,99 a 525,15, p <0,001 ***HR ajustado: 5,15, IC 95%: 2,21 a 12,02, p <0,001
O risco de SR para HBsAg foi inversamente relacionado ao nível de anti-HBs.
Tanto o rituximabe quanto o abatacepte podem resultar na perda de anti-HBs, e o abatacepte teve uma incidência cumulativa de SR para HBsAg de 35,4%-62,5% em pacientes com títulos baixos de ou negativos para anti-HBs.
Take-home messages
Não apenas o rituximabe, mas também o abatacepte apresentam um alto risco de reativação do HBV em pacientes com AR e infecção por HBV resolvida.
A positividade para anti-HBs pode não conferir o status livre de reativação de HBV se os níveis de anti-HBs não forem altos o suficiente para pacientes com infecção por HBV resolvida em tratamento com rituximabe e abatacepte.
O abatacepte provalmente deveria ser incluído como terapia com alto risco de reativação nas recomendações de profilaxia antiviral em pacientes com DRIMs.
Referências
1. Shi Y et al. BMJ. 2020;370:m2200. doi: 10.1136/bmj.m2200.
2. Sasadeusz J et al. Clin Liver Dis. 2019;23(3):521-34. doi: 10.1016/j.cld.2019.04.012.
3. Chen MH et al. Ann Rheum Dis. 2021;80(11):1393-9. doi: 10.1136/annrheumdis-2021-220774.