Evidências de miosite imunomediada em pacientes com COVID-19 grave
- 30/06/2021
- Publicado por: reumatonews
- Categoria: Reumatologia

Miopatia, variando de miosite leve a rabdomiólise fatal, já foi associada a diferentes infecções virais.
Mialgia, níveis aumentados de CPK e fraqueza muscular persistente têm sido relatados em pacientes com COVID-19.
Em alguns casos, o dano muscular visto em pacientes com COVID-19 parece ser devido à resposta imunológica e não à invasão direta do tecido muscular pelo vírus, sugere uma nova série de autópsias.
Neste estudo, foi realizada análise histopatológica, virológica, imunológica e ultraestrutural do músculo esquelético de indivíduos que foram a óbito com COVID-19 grave e os achados foram comparados àqueles de pacientes com doenças críticas que não eram COVID-19.
O estudo…
Conduzido estudo caso-controle com autópsias através de investigação multidisciplinar post-mortem.
Foram incluídos pacientes com COVID-19 ou outras doenças críticas que faleceram entre março de 2020 e fevereiro de 2021 e nos quais uma autópsia foi realizada.
A confirmação da infecção pelo SARS-CoV-2 foi feita por teste de reação em cadeia da polimerase e características clínicas sugestivas de COVID-19.
Os casos foram comparados com indivíduos com resultados negativos do teste de reação em cadeia da polimerase para SARS-CoV-2 e ausência de características clínicas sugestivas de COVID -19.
Uma avaliação cega foi realizada analisando a inflamação do tecido muscular esquelético por quantificação de infiltrados de células imunes, expressão do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe I e antígenos de classe II no sarcolema.
O músculo cardíaco também avaliado foi pela quantificação de infiltrados de células imunes.
Quarenta e três pacientes com COVID-19 (idade mediana 72 anos; 72% homens) foram comparados a 11 pacientes com doenças diferentes da COVID-19 (idade mediana 71 anos; 64% homens).
Amostras de músculo esquelético de pacientes que morreram com COVID-19 mostraram um escore patológico geral mais alto e uma maior pontuação de inflamação (p<0,001).
Expressão relevante de antígenos MHC classe I no sarcolema estava presente em 55% das amostras de pacientes com COVID-19.
Regulação positiva de antígenos MHC classe II em 17% dos pacientes com COVID-19.
Expressão relevante de MHC classes I ou II não estava presente nos controles.
Houve também maior participação de células natural killer no infiltrado inflamatório de pacientes com COVID-19 vs. controles (p<0,001).
Os músculos esqueléticos exibiram mais características inflamatórias do que os músculos cardíacos, e a inflamação foi mais pronunciada em pacientes com COVID-19 com cursos crônicos.
Em alguns espécimes musculares, SARS-CoV-2 RNA foi detectado por RT-PCR, mas nenhuma evidência de infecção viral direta de miofibras foi encontrada por imunohistoquímica e microscopia eletrônica.
Take-home messages
Neste estudo caso-controle de pacientes que foram à óbito com e sem COVID-19, a maioria dos indivíduos com COVID-19 grave apresentou sinais de miosite variando de leve a grave.
A inflamação dos músculos esqueléticos foi associada à duração da doença e foi mais pronunciada do que a inflamação cardíaca.
A detecção da carga viral foi baixa ou negativa na maioria dos músculos esqueléticos e cardíacos e provavelmente atribuível ao RNA viral circulante, e não à infecção genuína dos miócitos.
Os dados sugerem que o vírus SARS-CoV-2 pode estar associado a uma miopatia pós-infecciosa imunomediada.
Referências
Aschman T et al. JAMA Neurol. 2021. doi: 10.1001/jamaneurol.2021.2004.
bit.ly/COVID-19-musculo