Mais osteonecrose avascular em pacientes com SAF primária com trombocitopenia e uso de glicocorticoides

A osteonecrose avascular (ONA) tem sido associada à síndrome antifosfolipíde primária (SAFp), embora a natureza desta associação não está completamente clara1.

Estudo com ressonância magnética (RM) já evidenciou frequência de 20% de ONA em pacientes assintomáticos com SAFp, sendo que ONA esteve mais presente em pacientes com livedo reticular e metade dos casos tinha acometimento bilateral1.

Na SAF, trombose de vasos ósseos é considerada um possível mecanismo, embora os pacientes com SAF possam ter vários outros fatores de risco, como uso de glicocorticoides (GCs), dislipidemia, trauma, tornando a compreensão do processo subjacente mais difícil2.

Estudo brasileiro recém-publicado objetivou investigar a frequência de ONA e suas associações com parâmetros clínicos e laboratoriais em pacientes com SAFp3.

Este foi um estudo transversal de 66 pacientes com SAFp que preenchiam os critérios de Sidney para SAF.

Foram coletados dados epidemiológicos, clínicos e perfil de anticorpos antifosfolípides.

O diagnóstico de ONA foi baseado em estudos de RM dos ossos afetados.

ONA foi encontrada em três dos 66 (4,5%) pacientes incluídos.

A comparação de pacientes com SAFp com e sem ONA mostrou que os dados demográficos, as comorbidades e o perfil de anticorpos antifosfolípides foram semelhantes nos dois grupos.

Comparados aos pacientes sem ONA, aqueles com ONA apresentaram trombocitopenia (66,7 vs. 7,9%)* e usaram GCs (100 vs. 35%)** com maior frequência.

*p=0,02
**p = 0,038

Neste estudo, pacientes usaram GCs devido à trombocitopenia (n = 7), em uma dose média de 30 mg/dia que foi diminuída em 6 meses.

Nos demais casos (n = 18), GCs foram usados no início do diagnóstico, antes que o diagnóstico SAFp fosse confirmado, sendo os Gcs rapidamente reduzidos.

O tempo médio de uso de GCs desses pacientes foi cerca de 4 meses.

Take-home message

ONA é rara em pacientes com SAFp e pode estar associada à trombocitopenia e uso prévio de glicocorticoide.

Referências

1. Tektonidou MG et al. Arthritis Rheum. 2003;48(3):732-6. doi: 10.1002/art.10835.

2. Rueda JC et al. J Clin Rheumatol. 2009;15(3):130-2. doi: 10.1097/RHU.0b013e31819dbd20.

3. Freire de Carvalho J et al. Rheumatol Ther. 2021. doi: 10.1007/s40744-021-00333-9