Os inibidores de JAK são efetivos no tratamento da doença pulmonar intersticial da artrite reumatoide?
- 08/02/2023
- Publicado por: reumatonews
- Categoria: Reumatologia

Enquanto a frequência de doença pulmonar intersticial (DPI) subclínica na artrite reumatoide (AR) é de 30-50%, quadros clinicamente significantes de DPI chegam a 10%.
Complicações pulmonares respondem por 10-20% das mortes associadas a AR.
As evidências são limitadas sobre o papel dos inibidores de JAK (iJAK) no tratamento da DPI associada a AR (DPI-AR).
Vamos revisar aqui três estudos recentes que avaliaram esse tema.
Estudo 1
Estudo observacional multicêntrico | base de dados TReasure*
*registro turco de pacientes com AR e espondiloartrites
Pacientes com DPI-AR = 47 | grupo controle (pacientes com AR sem DPI) = 387
Sexo masculino: 42,6%
Desfecho utilizado: CVF e VEF1*
*CVF: capacidade vital forçada
VEF1: volume expiratório forçado no 1o seg
Seguimento médio de 15 meses | ambos os grupos foram tratados com tofacitinibe (TOF)
No grupo DPI-AR, pacientes eram mais frequentemente homens, mais velhos e tinham maiores escores de atividade de doença na linha de base (vs AR sem DPI).
66% dos pacientes com DPI-AR não haviam recebido previamente terapias avançadas, enquanto 34% receberam TOF após pelo menos 1 DMARD biológico*.
*aTNF=27,7%; abatacepte = 14,9%; rituximabe = 12,8%; tocilizumabe = 4,3%
Padrões da DPI na TCAR: PINE (54,5%) | PIU (36,3%) | doença de via aérea (9,1%)
PINE: pneumonite intersticial não específica
PIU: pneumonite intersticial usual
Houve um aumento estatisticamente significante, porém não clinicamente significante, de CVF em um intervalo médio de 12 meses de tratamento com TOF
11,1% tiveram piora de CVF > 5%
A taxa de retenção de TOF não diferiu nos dois grupos (AR com e sem DPI)
A taxa de descontinuação por infecção foi maior no grupo AR com DPI vs AR sem DPI*
*6,3/100 PA vs 2,4/100 PA
Estudo 2
Estudo observacional de um único centro italiano
N=75 pacientes | 31 tratados com iJAK | 44 tratados com abatacepte
Sexo masculino: 30,7%
Desfecho utilizado: alterações fibróticas na TCAR*
*piora: progressão de 15% ou mais na fibrose; estável: alterações dentro de 15%; melhora: redução de 15% ou mais
Grupo iJAK: 83,9% com melhora ou estabilidade | 16,1% de progressão
Grupo abatacepte: 88,7% com melhora ou estabilidade | 11,3% de progressão
Único fator associado com progressão da DPI-AR no grupo iJAK foi duração da AR
Estudo 3
Estudo retrospectivo multicêntrico italiano
43 pacientes com DPI-AR tratados com iJAK
Sexo masculino: 53,48%
Desfechos utilizados: alterações fibróticas na TCAR* | CVF** | DLCO***
*piora: progressão de 10% ou mais na fibrose; estável: alterações dentro de 10%; melhora: redução de 10% ou mais
**piora: progressão de 20% ou mais; estável: alterações dentro de 20%; melhora: redução de 20% ou mais
***piora: progressão de 15% ou mais; melhora: redução de 15% ou mais
Seguimento médio de 19,1 meses
iJAKs utilizados: baricitinibe (65,12%), tofacitinibe (20,93%), filgotinibe e upadacitinibe (6,98% cada)
Nenhum paciente recebeu nintedanibe concomitante
Padrões da DPI na TCAR: PINE (11,62%) | PIU (58,14%) | indeterminado (23,26%)
Terapias biológicas prévias: aTNF (44,19%) | rituximabe (27,91%) | abatacepte (38,10%) | tocilizumabe (30,23%)
Resultados para CVF: estável ou melhora (89,29%) | piora (10,71%)
Resultados para DLCO: estável ou melhora (80%) | piora (20%)
Resultados para TCAR: estável ou melhora (90,7%) | piora (9,3%)
Taxa de descontinuação dos iJAKs: 48,84%
Principal motivo de descontinuação dos iJAKs: perda de eficácia articular (71,42%)
Take-home messages
A terapia com inibidores de JAK parece ser eficaz em estabilizar ou melhorar diferentes parâmetros da DPI-AR em mais 80% dos pacientes
Em um dos estudos as taxas de piora de progressão da DPI-AR com iJAK foi comparável àquela do abatacepte
Referências
Estudo 1: Kalyoncu U et al. Clin Exp Rheumatol. 2022;40(11):2071-7. doi: 10.55563/clinexprheumatol/9h6dtb.
Estudo 2: Tardella M et al. Inflammopharmacology. 2022;30(3):705-12. doi: 10.1007/s10787-022-00936-w.
Estudo 3: Venerito V et al. J. Clin. Med. 2023;12(3):957. doi: 10.3390/jcm12030957