Trombocitopenia imune pró-trombótica induzida por vacina
- 07/04/2021
- Publicado por: reumatonews
- Categoria: Reumatologia

À medida que os programas de imunização em larga escala contra COVID-19 seguem em todo o mundo, sinais de segurança emergirão e precisam de avaliação rápida.
Neste sentido, a plataforma MedRxiv publicou em 28/03/2021 um “preprint” de um estudo de coorte de rede multinacional, incluindo dados de 8 países (Austrália, França, Alemanha, Japão, Holanda, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos), relatando as taxas de incidência de histórico de eventos adversos de interesse especial para as vacinas contra a COVID-191.
O estudo analisou 126.661.070 pessoas e as taxas variaram muito entre os bancos de dados e por idade e sexo1.
De particular interesse nessa análise para o reumatologista, podem ser os eventos tromboembólicos (TE), visto que diversas doenças reumáticas imunomediadas (DRIMs) já apresentam de base um elevado risco TE, como é o caso da síndrome antifosfolípide, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, vasculites sistêmicas, dentre outras.
Após vacinação em larga escala com AZD1222 (AstraZeneca), uma vacina de vetor adenoviral recombinante que codifica o antígeno da proteína spike do SARS-CoV-2, surgiram relatos de alguns casos de eventos trombóticos incomuns e trombocitopenia pós-vacina.
O uso da vacina foi suspenso para indivíduos com menos de 55 ou 60 anos em vários países europeus e no Canadá após relatos de um distúrbio pró-trombótico e trombocitopenia, principalmente em indivíduos mais jovens.
A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) continua a tranquilizar o público sobre a segurança da vacina AZD1222, embora vários países tenham imposto novas restrições ao produto.
A vacina parece estar ligada a uma condição que se assemelha clinicamente à trombocitopenia induzida por heparina (TIH) e que ocorre principalmente em mulheres mais jovens2.
Os pesquisadores têm proposto denominar a condição de “trombocitopenia imune pró-trombótica induzida por vacina (TIPIV)” para evitar a confusão com a TIH2.
Nesse contexto, um estudo divulgado como “preprint” em 28/03/2021 na Research Square, investigou dados clínicos e laboratoriais de 9 pacientes na Alemanha e Áustria que desenvolveram trombose e trombocitopenia seguindo a vacina AZD12222.
Tais pacientes foram investigados se poderiam ter um distúrbio protrombótico causado por anticorpos ativadores de plaquetas direcionados contra o fator plaquetário 4 (PF4), que podem desenvolver-se após uso da heparina e, às vezes, por outros gatilhos ambientais2.
O soro de quatro pacientes foi usado para testar anticorpos anti-PF4/heparina, tanto por imunoensaio quanto por ensaios de ativação plaquetária realizados na presença de heparina, PF4 ou ambos2.
Os 9 pacientes (8 mulheres; idade mediana, 36 [variação, 22-49]) apresentaram espisódios TE começando 4 a 16 dias após a vacinação: 7 pacientes tiveram trombose venosa cerebral (TVC), 1 teve tromboembolia pulmonar e 1 teve trombose de veia esplâncnica e TVC2.
Quatro pacientes foram a óbito e nenhum havia recebido heparina antes do início dos sintomas. Todos os quatro pacientes testaram fortemente positivo para anticorpos anti-PF4/heparina por imunoensaio; todos os 4 pacientes foram fortemente positivos no ensaio de ativação plaquetária na presença de PF4 independentemente da heparina2.
A ativação plaquetária foi inibida por altas concentrações de heparina, anticorpo monoclonal bloqueador do receptor Fc e imunoglobulina intravenosa2.
Take-home messages
Reumatologistas precisam estar atentos a novos dados de segurança, particularmente desfecho tromboembólicos, da vacina AZD1222 (AstraZeneca) contra a COVID-19.
Como o perfil de pacientes com a proposta “trombocitopenia imune pró-trombótica induzida por vacina” é o mesmo de pacientes com doenças reumáticas autoimunes associadas a um elevado risco tromboembólico, mulheres jovens, no futuro, talvez sejam propostos melhores critérios na seleção da melhor estratégia vacinal nesta população.
Referências
1. Li X et al. medRxiv [Preprint]. 2021. doi: 10.1101/2021.03.25.21254315.
2. doi: 10.21203/rs.3.rs-362354/v1